Vieram os Anjos e serviram-nO, OS ANJOS NA VIDA TERRENA DE JESUS

Vieram os Anjos e serviram-nO
"Na mesma região, encontravam-se uns pastores, que pernoitavam nos campos, guardando os seus rebanhos durante a noite. O Anjo do Senhor apareceu-lhes, e a glória do Senhor refulgiu em volta deles, e tiveram muito medo. Disse-lhes o Anjo: "Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que o será para todo o povo: Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor. Isto vos servirá de sinal para O identificardes: Encontrareis um Menino envolto em panos e deitado numa manjedoura". De repente, juntou-se ao Anjo uma multidão do exército celeste, louvando a Deus e dizendo: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do Seu agrado!"" (Lc. 2.8-13)

Toda a vida terrena de Nosso Senhor aparece rodeada por estes primeiros seres espirituais saídos da mão criadora de Deus. Isto tem um profundo significado, pois Jesus Cristo, o Filho de Deus e a Sua obra Redentora em favor da humanidade. é o verdadeiro centro da vida e actividade angélica.

O FILHO DO HOMEM INFERIOR AOS ANJOS
Em Natureza A Criatura humana é inferior ao Anjo. Se na antiguidade o homem reverenciava o Anjo e o Anjo não reverenciava o homem, a razão está na superioridade daquele em relação a este mesmo homem. Esta superioridade manifesta-se de três maneiras:
- O Anjo é superior em dignidade pelo facto da sua natureza ser espiritual e incorruptível (cfr. Sl. 103,4);
- O Anjo sobrepassa-nos pela sua familiaridade com Deus (cfr. Dn. 7,10);
- O Anjo eleva-se acima do homem pela plenitude do esplendor da sua graça.
Todo o Antigo Testamento está cheio de exemplos desta realidade:
- A hospitalidade de Abraão para com os três Anjos junto ao carvalho de Mambré (cfr. Gn. 18,1-5);
- A atitude dos pais de Sansão por ocasião da segunda visita do Anjo que lhes anuncia a concepção do filho (cfr. Jz. 14,1 1-20);
- O temor reverencial de toda a família de Tobias por ocasião da despedida de São Rafael (cfr. Tob. 12,15-20).
Segundo a tradição judaica, ninguém podia ver a Deus e continuar vivo e o mesmo se dava com quem visse os Anjos, pois são criaturas cheias de Deus e portadoras da Sua glória. O homem pecador era indigno de tal contemplação. Não convinha, pois, que o Anjo se inclinasse diante do homem, até ao dia em que apareceu a criatura humana que ultrapassa até os próprios Anjos pela Sua plenitude de graça, por Sua familiaridade com Deus e por Sua dignidade: MARIA! Por reconhecer esta superioridade, o Anjo São Gabriel, na Anunciação manifesta-Lhe a sua veneração com a palavra: "AVE!" (cfr. Le Pére et l'Avé, Paris, Nouvelle Edition Latines, 1967: L'Ave Maria. Explicação da saudação do Anjo Gabriel, pg. 159 e 163, Dout. Comum, 2).
Pela Encarnação, o Verbo que "era de condição divina, não reivindicou o direito de ser equiparado a Deus, mas despojou-se a Si mesmo, tomando a condição de servo, tornando-Se semelhante aos homens" (Filip. 2,6-7). Como verdadeiro homem "que habitou entre nós" (Jo.1,14). Ele mesmo tornou-Se inferior aos Anjos, como atesta a carta aos Hebreus. Após a Ressurreição e Ascensão "vemos agora coroado de glória e de honra aquele Jesus que por um pouco de tempo foi feito inferior aos Anjos, em virtude de ter padecido a morte, a fim de que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos" (Heb. 2,9).
Contudo, nesta pobre "roupagem" humana os Anjos não deixam de O adorar e reconhecer como Seu Senhor e Deus neste abismo inimaginável de humildade. O próprio Pai "ao introduzir o Primogénito no mundo, disse: "Adorem-nO todos os Anjos de Deus" (Heb. 1,6; cfr. Sl. 96,7). E isto certamente fez S. Gabriel no momento primeiro da Sua Encarnação, no silêncio da casa de Nazaré. Externamente os Anjos manifestaram o seu louvor pelas maravilhas que Deus operou em favor dos homens em Seu Filho, na noite santa do Natal: "Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do Seu agrado!" (Lc. 2,13).

OS ANJOS NA VIDA TERRENA DE JESUS
Por isso não é de estranhar que eles apareçam junto do Senhor nos momentos-chave da Sua vida terrena. Onde os homens não podiam fazer nada por causa da sua limitação e fraqueza, aí estão eles sempre presentes a mostrar a solicitude do Pai para com Aquele Filho, do Qual dá este testemunho: "Este é o Meu Filho muito amado, no Qual pus toda a Minha complacência!" (Mt. 3,17).
Por ocasião da perseguição de Herodes foi o Anjo quem "apareceu em sonhos a José, e disse-lhe: "Levanta-te, toma o Menino e Sua Mãe, foge para o Egipto e fica lá até que eu te avise, pois Herodes procurará O menino para O matar" (Mt. 2,13). Após a morte do tirano, o Anjo, da parte de Deus, cumpre a sua palavra (cfr. Mt. 2,19-20). Mas, ao chegarem a Jerusalém, José "avisado em sonhos, retirou-se para a região da Galileia e foi morar numa cidade chamada Nazaré" (Mt. 2,22). Os três lugares onde Jesus viveu na Sua vida oculta:
- Belém
- Egipto e
- Nazaré
foram escolhidos para que se cumprisse a Escritura. Assim o fizeram Maria e José, segundo as orientações divinas dadas através dos Anjos.
No começo da Sua vida pública, antes de iniciar a Sua missionação e antes mesmo de fazer o "primeiro milagre para manifestar a Sua glória" (Jo. 2,11), após o Baptismo "cheio do Espírito Santo, Jesus retirou-Se do Jordão e foi levado pelo Espírito ao deserto" (Lc. 4,1). Aí, longe das comodidades da civilização e do convívio dos homens, é tentado por Satanás (cfr. Lc. 4,2-12). "Tendo esgotado toda a espécie de tentação, o diabo retirou-se de junto d'Ele, até um certo tempo" (Lc. 4,13). Quem é que nesse agreste lugar permanece junto do Senhor? Responde-nos o Evangelho: "O Diabo deixou-O e chegaram os Anjos e serviram-n'O" (Mt. 4,11).
Se no começo do Seu ministério público a presença dos Santos Anjos é referida nos Evangelhos, o mesmo aconteceu no final dos três anos de pregação. Ao iniciar a Sua Paixão no Horto das Oliveiras, quando os três apóstolos mais íntimos falharam ao convite: "Ficai aqui e vigiai Comigo" (Mt. 26, 38b), apesar do desabafo: "A Minha alma está numa tristeza de morte" (Mt. 26, 38a), e adormeceram deixando-O sozinho entregue à Sua dor, o Anjo é a única criatura que marca a sua presença confortadora: "Então, vindo do Céu, apareceu-Lhe um Anjo que O confortava" (Lc. 22,43).
Como os Santos Anjos nas horas dolorosíssimas da Paixão estavam prontos a defender o Seu Rei e Senhor da iniquidade humana, se essa fosse a vontade do Pai! O próprio Mestre não ignora esta atitude dos Seus fidelíssimos servos e dela dá testemunho quando responde a Pedro: "Julgas que não posso rogar a Meu Pai, que imediatamente Me enviaria mais de doze legiões de Anjos? Como se cumpririam então as Escrituras que dizem que tudo deve acontecer assim?" (Mt. 26, 53-54).
Se na 5ª e 6ª Feiras Santas não puderam manifestar o Seu zelo por Cristo, no Domingo de Páscoa são eles, mais uma vez, a anunciarem aos homens as maravilhas de Deus em nosso favor, tal como aconteceu na noite de Natal. No alvorecer do primeiro dia da semana "houve um grande terramoto, pois o Anjo do Senhor, descendo do Céu, aproximou-se e removeu a pedra (do sepulcro), sentando-se sobre ela. O seu aspecto era como o de um relâmpago e a sua túnica branca como a neve" (Mt. 28, 2-3). E este quem anuncia às mulheres: "Sei que buscais a Jesus crucificado. Não está aqui, pois ressuscitou, como havia dito!" (Mt. 28,5-6). Também Madalena dentro do sepulcro "viu dois Anjos vestidos de branco sentados um à cabeceira e outro aos pés onde jazera o corpo de Jesus" (Jo. 20,12), antes de ver o Senhor, a Quem buscava.
Ao terminar a Sua vida visível no meio de nós, são novamente os Anjos que declaram a todos os que presenciaram a Sua Ascensão: "Homens da Galileia, por que estais assim a olhar para o Céu? Esse Jesus que vos foi arrebatado para o Céu, virá da mesma maneira como agora O vistes partir para o Céu" (Act. 1,11).

JESUS ENSINA-NOS ACERCA DOS ANJOS
Apesar de não ser o tema central da revelação que o Filho de Deus veio trazer à terra, contudo ela não nos deixa na ignorância acerca destas criaturas invisíveis que estão mais relacionadas connosco do que pensamos.
Jesus menciona-os como seres pessoais, reais e activos, que velam por nós desde a infância. Por isso afirma: "Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus Anjos, nos Céus, vêem continuamente a face de Meu Pai que está nos Céus" (Mt. 18,10).
Quando crescemos e ficamos adultos, os perigos, as tentações e os problemas aumentam. Iriam abandonar-nos aqueles que nos acompanham desde a infância? Sem dúvida que não! Tão pouco ficam indiferentes perante a situação de estado de pecado ou da nossa conversão. Tal mudança no coração do homem é motivo de alegria para os Anjos: "Digo-vos - declara Jesus - há alegria entre os Anjos de Deus por um só pecador que se arrependa" (Lc. 15.10).
Também após a morte não estaremos sós! São eles que levarão os justos ao paraíso. conforme está escrito na parábola do pobre Lázaro e do rico avarento. O pobre Lázaro morreu e foi levado pelos Anjos ao seio de Abraão" (Lc. 16, 22). A Igreja testemunha a fé nesta realidade na liturgia das exéquias. Não é por acaso que estes Espíritos Bem-aventurados são invocados como COMPANHEIROS DAS ALMAS DOS DEFUNTOS!
Cristo, perante os Anjos, dará testemunho a favor ou contra o homem de acordo com a sua vida na terra. "Todo aquele que se declarar por Mim diante dos homens, também o Filho do Homem declarará por ele diante dos Anjos de Deus. Aquele, porém, que Me tiver negado diante dos homens será negado diante dos Anjos de Deus" (Lc. 12,8-9; Cfr. Mc. 8,38; Lc. 9,26). Isto poderá parecer estranho à primeira vista, mas na realidade não o é, pois vamos na eternidade participar da mesma recompensa que Deus já deu aos Anjos fiéis, isto é,
- a visão beatífica
- e a confirmação no estado de graça. No Céu, mesmo após a ressurreição gloriosa do nosso corpo, o novo estado será semelhante ao dos Anjos, sem deixarmos de ser verdadeiras criaturas humanas. "Aqueles que forem julgados dignos de participar do outro mundo e da ressurreição dos mortos, nem se casam, nem são dados em casamento" (Lc. 20,33), isto é, "nem os homens terão mulheres, nem as mulheres maridos" (Mt. 23,30), "porque já não podem morrer; são semelhantes aos Anjos e, sendo filhos da ressurreição, são filhos de Deus" (Lc. 20,36). Numa palavra: seremos como os Anjos de Deus nos Céus, porque
- seremos imortais
- o espírito comandará a carne plenamente santificada
- e estaremos sem qualquer mácula. Puros como os Anjos!
No entanto o tema que Jesus mais desenvolve sobre os Seus Anjos é por ocasião da Sua segunda vinda. "Quando o Filho do Homem vier na Sua glória, acompanhado por todos os Seus Anjos, sentar-Se-á, então, no seu trono de glória" (Mt. 25,31), "então retribuirá a cada um conforme o seu procedimento" (Mt. 16,27). Aí servir-Se-á deles como Ministros da Sua Justiça, conforme está escrito na explicação da parábola do joio no campo: "Aquele que semeou a boa semente é o Filho do Homem; o campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno, e o inimigo que a semeou é o diabo. A ceifa é o fim do mundo: O Filho do Homem enviará os Seus Anjos, que irão tirar do Seu reino todos os escandalosos e todos quantos praticam a iniquidade, e lançá-los-ão na fornalha ardente; ali haverá choro e ranger de dentes" (Mt. 13,36-42; cfr. Mt. 13,50).
Farão a reunião dos eleitos a farão na força da Omnipotência Divina: "Ele enviará os Seus Anjos, com uma trombeta altissonante, para reunir os Seus eleitos desde os quatro ventos" (Mt. 24,31), "desde a extremidade da Terra à extremidade do Céu" (Mc. 13,27). "Então os justos resplandecerão como o Sol, no reino do seu Pai!" (Mt.13,43).
"Quanto àquele dia e àquela hora, ninguém o sabe, nem os Anjos do Céu, nem o Filho; só o Pai" (Mt. 24,36). E claro que Jesus enquanto Deus com o Pai e o Espírito Santo sabe-o, pois a ciência não é propriedade de apenas uma das Pessoas Divinas, mas atributo do Deus Uno. Portanto, como Verbo de Deus sabe-o, e até como verdadeiro Homem por ciência infusa, mas não o sabe como ciência comunicável. Este segredo - bem como o da nossa morte - impõe-nos a necessidade de estarmos vigilantes.

PENSAMENTO FINAL
Não esperemos pela acção dos Anjos como ministros da Justiça, aproveitemos agora a sua acção em nosso favor como ministros da Misericórdia Divina. Ela nos é oferecida gratuitamente e Jesus no-la anuncia no Evangelho. "Em verdade, em verdade vos digo: Vereis (com os olhos da fé na vossa vida concreta de todos os dias) o Céu aberto e os Anjos de Deus subindo e descendo sobre o Filho do Homem" (Jo. 1,51) que está eucaristicamente no meio de nós. Os Anjos levam as nossas súplicas que fazemos em nome de Jesus (cfr. Jo, 14,13), e trazem as graças em atenção os méritos que Ele nos deixou na Sua Igreja.
Por isso os Santos Anjos servem sempre Cristo presente em nós!