Os Anjos na vida dos Santos (II) Ensinamentos de Abraão: Fé, Obediência, Desprendimento e Esperança

Os Anjos na vida dos Santos (II)

Ensinamentos de Abraão: Fé, Obediência, Desprendimento e Esperança

A vida de Abraão é um exemplo excelente para a nossa aspiração à virtude e para a nossa vida com os Anjos. É verdade que nem em todas as situações que Abraão teve que enfrentar, o Anjo é explicitamente mencionado, mas sabemos: "Os Anjos cooperam em todas as nossas boas obras" (São Tomás de Aquino, Summa theol. I,114,3 ad 3). Também o Santo Padre afirma: "Os Anjos, criaturas espirituais, têm função de mediação e de ministério nas relações mantidas entre DEUS e o homem" (Audiência geral de 30.7.1986). A base desta relação é a fé. Neste ponto os Anjos ajudam-nos com a sua luz, para que compreendamos melhor as verdades da fé, as amemos mais fervorosamente e as vivamos com fidelidade. Foi também nisto que o Anjo começou a ajudar Abraão: na fé: ajudou-o a crer em DEUS e a colocar a sua Palavra acima de todas as demais coisas da sua vida.
Quando DEUS chamou Abraão, este levantou-se e seguiu-O, deixando a pátria e a casa paterna. Imaginemos que convicção, que coragem e generosidade isto lhe exigiu: com 75 anos deixar a pátria e ir, através de muitos perigos, para um país estrangeiro. Fê-lo porque acreditou em DEUS.
Sim, Abraão acreditou e pôs a sua esperança na promessa de DEUS, que lhe prometera um país que, um dia, a sua numerosa descendência receberia em herança. Ao chegar à idade de 85 anos, parece-lhe que o seu servo é que há-de herdar todos os seus bens; mas então DEUS promete-lhe um filho. Abraão renuncia a todo e qualquer raciocínio natural e crê firmemente na palavra de DEUS. Abraão e Sara deviam ter tido uma grande luta nesta provação, como se deduz da atitude de Sara que, sendo estéril, insistiu em que Abraão se unisse à sua serva Agar, para que ao menos, através dela, pudesse dar-lhe um filho. De facto, Agar deu à luz um filho, a quem Abraão chamou Ismael (cf. Gn 16,15). Foi nele que o patriarca pôs por agora a sua esperança.
Porém, quando Abraão já tem 99 anos, DEUS aparece-lhe de novo e promete-lhe um filho que nascerá de Sara e que será o seu único herdeiro. Tendo em conta a sua idade muito avançada e o amor que tinha a Ismael, Abraão vacilou um momento e pediu a DEUS que aceitasse Ismael e cumprisse nele a promessa. Mas o Senhor repetiu a promessa de uma aliança e de uma descendência numerosa que lhe seria dada por Sara. Mais uma vez, Abraão renunciou a toda e qualquer reflexão humana e acreditou em DEUS.
Fiel à Sua palavra, DEUS deu um filho a Abraão e Sara; foi Isaac, em quem todas as promessas se cumpririam. Indizivelmente pesada deve ter sido, portanto, a provação para Abraão, quando DEUS, doze anos mais tarde, exigiu que tomasse Isaac, seu filho muito amado, e o oferecesse em holocausto no monte que Ele próprio lhe mostraria (Mória, em Jerusalém). Mas Abraão manifestou uma fé e uma obediência exemplares! Pensemos no grande silêncio que ele guardou naquela provação. Não pronunciou uma palavra inútil. Numa grande disponibilidade, levantou-se de madrugada para ir executar a ordem de DEUS. Ele mesmo selou o jumento e cortou a lenha para o sacrifício. Fez tudo isto com as suas próprias mãos; embora tivesse muitos servos, quis cumprir até ao mínimo pormenor a vontade de DEUS. Tenhamos também presente que entretanto ele já tinha 112 anos!
Andaram três dias até chegar ao monte mencionado por DEUS. Aí, Abraão colocou a lenha aos ombros de Isaac, (que se tornou assim prefiguração de CRISTO, o Cordeiro do sacrifício que levou a Sua cruz para o Calvário), enquanto ele pegou no fogo e no cutelo. O filho perguntou-lhe: 'Meu Pai!... Levamos fogo e lenha mas onde está a rês para o holocausto?' Como devia sangrar o coração de Abraão ao ouvir esta pergunta! Mas respondeu: 'DEUS providenciará quanto à rês para o holocausto, meu filho' (Gn 22,8).
Não porque Abraão esperasse que o seu filho pudesse ser salvo no último minuto, mas antes como no-lo explica São Paulo: Contra o que podia esperar, acreditou (Rom 4,18). Ele considerava que DEUS é poderoso até para ressuscitar os mortos; por isso o recebeu na qualidade de figura (Hb 11,19).
Quando Abraão agarrou no cutelo para degolar o filho, o Anjo do Senhor gritou-lhe do céu: 'Abraão! Abraão!' Ele respondeu: 'Aqui estou'. O Anjo disse: 'Não levantes a tua mão sobre o menino e não lhe faças mal algum, porque sei agora que, na verdade, temes a DEUS, visto não me teres recusado o teu único filho' (Gn 22,11-12). Erguendo os olhos, Abraão viu atrás dele um carneiro preso pelos chifres num silvado. Ofereceu-o em holocausto, em substituição do filho.
O Anjo do Senhor chamou Abraão do céu, pela segunda vez, e disse-lhe: 'Juro por Mim mesmo, declara o Senhor, que, por teres procedido desta forma e por não Me teres recusado o teu único filho, abençoar-te-ei e multiplicarei a tua descendência como as estrelas do céu e como a areia das praias do mar..... E todas as nações da terra serão abençoadas na tua descendência, porque obedeceste à Minha voz' (Gn 22,15-18).
Pela sua obediência na fé, Abraão mereceu ser o antepassado de CRISTO e o nosso pai na fé. São Paulo explica que as promessas foram feitas a Abraão e à sua descendência, falando como de um só, que é CRISTO (cf. Gal 3,16).
O que neste relato nos enche de espanto é a maneira de falar do Anjo, pois fala directamente em nome de DEUS. Isto explica-se pela união do Anjo com DEUS na visão beatífica, na qual o Anjo é aperfeiçoado. Que significa isto? Sem perderem nada da sua condição de criatura, os Anjos entraram, pela graça, numa perfeita união mística com DEUS. Na carta aos Hebreus está escrito: A respeito dos Anjos diz: 'Ele faz dos Seus Anjos espíritos e dos Seus ministros chamas de fogo' (Hb 1,7).
Porque são santificados pelo ESPÍRITO SANTO e penetrados do fogo do Seu Amor, é Ele que os conduz e move com os Seus dons quando cumprem o seu ministério. As palavras que São João da Cruz usa para uma alma na união mística, valem ainda mais para os Anjos na sua glória. "Neste estado não pode a alma fazer nenhum acto de seu natural, pois o ESPÍRITO SANTO fá-los todos e a eles a move; e por isso todos os seus actos são divinos, pois são feitos e movidos por DEUS" (Chama viva de amor I,4). "Todos os movimentos desta alma são divinos; mas ainda que sejam de DEUS, são dela também, porque DEUS os faz nela, com ela, que dá a sua vontade e consentimento" (ibid. I,9). Em poucas palavras: os Anjos são instrumentos perfeitos e mensageiros para transmitir às almas a luz de DEUS e o fogo do Seu amor.
É certo que DEUS poderia fazer tudo isso sem o ministério dos Santos Anjos, mas a Sagrada Escritura explica-nos que Ele nos envia os Seus Anjos como que numa missão espiritual. Na visão beatífica, os Anjos e os Santos possuem DEUS e são, por sua vez, propriedade d'Ele. Por isso gozam de uma grande liberdade de agir. Se os Anjos e os Santos conseguem pouco na nossa vida espiritual, não é porque lhes faltem o desejo ou os meios, mas porque nos falta a nós a boa disposição e a vontade de colaborar com eles. Em pouco tempo poderiam fazer-nos chegar à santidade, se nós aceitássemos apenas a Cruz, que é o único caminho na imitação de CRISTO. Voltam a ser as palavras de São João da Cruz sobre a perfeita união mística de uma alma com DEUS, que valem mais para os Anjos e os Santos na glória: "Porque ali vê a alma que DEUS é verdadeiramente dela, e que O possui com posse hereditária, com propriedade de direito, como quem é filho adoptivo de DEUS, pela graça que DEUS lhe fez de se lhe dar a Si mesmo, e que, como coisa própria, O pode dar e comunicar a quem ela bem quiser" (ibid. III, 78).
Se olharmos para os ministérios dos Anjos segundo a visão do 'Doutor místico', não nos surpreende que eles apareçam com o esplendor da glória de DEUS e falem em Seu nome. Pois, Deus não somente está neles e fala através deles (cf. Noite escura II,12), mas Ele lhes concedeu uma grande liberdade na execução dos seus serviços. A sua missão é conduzir-nos à santidade e têm a liberdade de nos advertir, iluminar, fortalecer e inflamar dentro dos limites estabelecidos pela Sabedoria Divina. Abraão colaborou com esta graça e assim o seu nome foi grande perante DEUS.

O profeta Eliseu: o combate espiritual

Eliseu: "Os que estão connosco são mais numerosos do que os que estão com eles." Outros textos da Sagrada Escritura mostram que a nossa vida decorre entre os Santos Anjos e os espíritos decaídos. As grandes tragédias da humanidade não se explicam apenas pela fraqueza ou pela maldade dos homens. Atrás delas há um poder espiritual que seduz, engana e incita o homem a pecar, como diz São Paulo: Porque nós não temos de lutar contra a carne e o sangue, mas contra os Principados, Potestades, contra os Dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares (Ef 6,12).
DEUS manda então os Anjos como um auxílio proporcionado às nossas necessidades. Não é sem motivo que um dos principais títulos de DEUS no Antigo Testamento é: "Senhor, DEUS dos Exércitos". Os Anjos formam este exército de DEUS para nos proteger. Isto manifesta-se na história do profeta Eliseu no tempo do reinado de Acaz.
O rei de Assíria estava em guerra contra Israel e tinha armado emboscadas. Mais de uma vez, porém, viu os seus planos baldados, porque o profeta tinha comunicado ao rei de Israel a estratégia do inimigo. Por isso, o rei de Assíria pensava em aprisionar Eliseu quando este se encontrava em Dotan. O exército inimigo veio com numerosos cavalos e carros em grande número e durante a noite pôs cerco à cidade. O servo de Eliseu, viu isto de madrugada e exclamou cheio de angústia: 'Ah!, meu senhor, que vamos fazer agora?' Eliseu respondeu-lhe: 'Não temas, os que estão connosco são mais numerosos do que os que estão com eles'. Eliseu, depois de fazer oração, disse: 'Senhor, abre-lhe os olhos para que veja'. O Senhor abriu os olhos do servo e ele viu o monte repleto de cavalos e carros de fogo, em redor de Eliseu (2 Rs 6,15-17).
O inimigo foi repelido porque o profeta rezava e o Anjo cegou os Assírios. Eliseu saiu, levou-os ao rei de Israel na Samaria, e só quando foram presos lhes abriu os olhos (cf. 6,20).
O fim da história é importantíssimo para todos os que procuram uma união profunda com os Anjos. O rei de Israel quis matar os prisioneiros, mas o profeta, cheio de clemência por causa da sua íntima união com DEUS, disse ao rei que servisse um banquete aos guerreiros assírios e que os deixasse voltar para junto do seu senhor. O fruto deste gesto misericordioso foi que a Assíria deixou Israel em paz por muito tempo (cf. 6,23). Uma alma de oração expressou-se assim sobre este ensinamento: Temos de nos esforçar por ser Anjos da misericórdia e não Anjos da cólera de DEUS.

Santo Antão, o pai dos monges

Os padres do deserto também experimentaram muitas vezes que os Anjos são mais numerosos e mais fortes que o inimigo. As suas experiências com os Anjos ensinam-nos a confiança, a perseverança e ainda a clemência para com o próximo. O Maligno quer fazer-nos sentir que o seu poder é terrível e funesto, e com mentiras tenta convencer-nos de que este seu poder é fortíssimo e invencível. É dentro desta mesma linha que ele nos incita a tratarmos os inimigos dura e brutalmente. Os Santos Anjos, porém, não ostentam o seu poder, não enfrentam o inimigo com o seu próprio poder mas, cheios de humildade, opõem-lhes o poder de DEUS que ultrapassa infinitamente qualquer poder criado. Por isso não são os poderosos que no combate espiritual conseguem opor-se ao inimigo e afugentá-lo, mas sim os humildes e pequenos.
Para melhor compreender esta verdade, vejamos agora a vida e os ensinamentos de Santo Antão, o pai dos monges. Antão era filho de uma família abastada; os pais deixaram-lhe uma fortuna considerável. Ao pensar como resolver a sua vida, Antão entrou numa igreja onde, naquele momento, se fazia a leitura do Evangelho sobre o jovem rico. Como que iluminado por um relâmpago (o Anjo!), Antão compreendeu que essa leitura se dirigia a ele. Vendeu tudo o que possuía, deu o produto aos pobres e retirou-se para a solidão do deserto.

A sua vitória sobre os espíritos malignos

Os demónios que nele reconheceram um possível adversário muito perigoso, oprimiam-no de todas as maneiras. Começaram por perturbá-lo com pensamentos da riqueza distribuída ("A avareza é a raiz de todo o mal"). A seguir inquietaram-no com a preocupação pela sua irmã e com pensamentos de vanglória e de comodidade. Vendo que tudo isto em nada desviava o jovem do caminho escolhido, tentaram-no com fantasias sobre a dureza de uma vida virtuosa e abnegada, não deixando de aludir à fraqueza física e à duração de tal penitência (cf. Santo Atanásio, Vida de Santo Antão, cap. 5). O inimigo, forçado a fugir por causa da constância do Santo, pegou em armas mais fortes e voltou a perturbá-lo dia e noite com tentações sensuais. Encontrando-se numa luta semelhante, o Pe. Pio declarou: "Por todo o género de imagens enganadoras, o inimigo procura fazer penetrar no meu coração pensamentos impuros e desespero" (Cartas I,33). "O demónio não cessa de me insuflar os seus argumentos, e o que é ainda mais doloroso é que me inspira constantemente pensamentos de grande desalento" (Cartas I,87). Foi pela oração, pelo jejum e pela meditação da Paixão de CRISTO e dos tormentos do inferno, que Santo Antão repeliu os ataques do diabo: Pela graça de DEUS sou o que sou! (1 Cor 15,10). Depois destas seduções, o tentador procurou vencê-lo com a lisonja e a ambição. Mas Santo Antão também a isto reagiu humilhando-se: O Senhor é para mim ajuda válida, verei humilhado o meu inimigo (Sl 118,7).
Mesmo depois estas vitórias, Antão não afrouxou na oração e na disciplina. Antes se impôs um jejum mais rigoroso e penitências mais duras. Nem teve medo de enfraquecer o seu corpo, sabendo que quando me sinto fraco, então é que sou forte (2 Cor 12,10).
"O maligno não aguentou mais essa resistência, receando que Antão em breve enchesse todo o deserto com a sua ascese. Por isso, uma noite, foi ter com ele levando consigo todo um exército de demónios, que bateram tão fortemente no santo que este, emudecido pela dor, ficou caído por terra" (Atanásio, Vida de Santo Antão, cap.8). Por intervenção divina chegaram uns amigos que levaram o ferido consigo para a cidade e cuidaram dele. Mas acordando por volta da meia-noite, Antão suplicou aos seus amigos que o levassem novamente para a sua cela no deserto.
De novo já lá sozinho, começou a rezar e, embora não conseguisse aguentar-se de pé, desafiou os demónios gritando: "Aqui estou de novo, eu, Antão; não receio os vossos golpes; mesmo se vierdes para me atormentar mais, nada me separará do amor de CRISTO (cf. Rom 8,25). A seguir entoou o Salmo: 'Ainda que um exército acampe contra mim, o meu coração não temerá' (27,3)" (ibid. cap. 9). Seguiu-se então uma noite cheia de um barulho infernal e os demónios torturaram-no de todas as maneiras possíveis, aparecendo-lhe em figura de vários animais horríveis. Mas Antão, que pusera toda a sua confiança no Senhor, saiu vitorioso daquela batalha. Por fim, DEUS inundou-o da Sua luz; os demónios fugiram e a dor foi aliviada. "'Onde estáveis? Porque não viestes no início para pôr fim aos meus tormentos?' perguntou o Santo. Uma voz respondeu-lhe: 'Antão, Eu estava aqui, mas esperei para ver como lutavas. Porque venceste sem seres derrotado, ajudar-te-ei sempre e espalharei a tua fama por toda a parte'" (ibid. cap. 10).

Conselhos para o combate espiritual

Depois de um período de quase quatro gerações de experiência na oração e no combate espiritual, Antão tornara-se um mestre de discernimento. No fim da sua vida pôde dizer: "Os demónios têm inveja de nós, cristãos, e põem tudo em movimento para nos desviar do caminho para o céu, porque não querem que nós cheguemos ao lugar donde eles foram precipitados. ... Por isso temos necessidade da oração fervorosa e da ascese, para que, tendo recebido do ESPÍRITO SANTO o dom do discernimento, reconheçamos a sua maneira de proceder " (ibid. cap. 22). "Uma vida recta com fé em DEUS é uma arma poderosa contra eles" (ibid. cap. 30).
"Mas o assalto e a visão dos espíritos malignos criam grande confusão, pois isto se dá com estrondo, barulho e gritos, semelhantes ao que fazem os jovens mal educados e os ladrões. Na alma surgem então a confusão e a desordem dos pensamentos, a vergonha, o ódio contra a ascese, o desleixo, a dor, a lembrança dos familiares, o medo da morte; depois vêm o desejo apaixonado do mal, a negligência das virtudes e a deformação do carácter" (ibid. cap. 36). Vemos, portanto, que a presença dos demónios causa um género de escuridão turva, ao mesmo tempo que fazem brilhar as suas luzes falsas e excitantes, um falso sentimento de segurança e vaidade.
Os Santos Anjos, porém, inspiram sempre a serenidade e uma profunda paz interior; conduzem-nos à mansidão de CRISTO, virtude que eles próprios manifestam na sua missão junto de nós, pobres pecadores. "A sua aparição é algo de muito tranquilo e suave, de modo que dá alegria e coragem à alma. Com eles vem o Senhor que é a nossa alegria, a força que vem de DEUS..... A alma sente a ânsia do que é divino e que está no futuro, e o gosto de se unir aos Anjos...." (ibid. cap. 35). A luz que os Anjos transmitem, exalta DEUS e torna a alma humilde, enchendo-a do temor de DEUS. Assim ela sente uma grande ânsia de DEUS e um desprendimento interior e admirável das coisas do mundo.
Santo Antão diz que, de facto, a presença do Anjo primeiro inspira também receio, mas este transforma-se logo em respeito e numa confiança amorosa em DEUS. Recomenda o seguinte: "Se tiverdes uma visão e sentirdes receio, mas se este se converte rapidamente em alegria indizível que vos inspira sentimentos de bem-estar, coragem, alívio, ordem nos pensamentos, ... e amor a DEUS, então podeis ficar felizes e animados, podeis rezar, porque a alegria e a paz da alma manifestam a santidade daquele que se vos apresenta. Assim se alegrou Abraão ao ver o Senhor (cf. Jo 8,56) e o pequenino João saltou de alegria no seio de Isabel ao ouvir a voz de MARIA, a Mãe de DEUS" (ibid. cap. 36).
O conselho final do Santo para o combate espiritual é: "Tenhamos coragem e alegremo-nos porque seremos salvos. Pensemos interiormente que o Senhor, que expulsou e derrotou os demónios, está connosco. Portanto, lembremo-nos sempre que os inimigos nada poderão fazer contra nós, porque o Senhor está connosco. É mesmo assim: quando os demónios aparecem, agem conforme o nosso estado de ânimo e adaptam as suas imagens enganadoras aos nossos pensamentos. Se virem que somos cobardes e vacilantes, assaltar-nos-ão como ladrões que encontram a casa desprotegida; tornarão pior e desmedido aquilo que pensamos acerca de nós próprios. Se nos virem cheios de medo e de cobardia, aumentarão este desanimo pelas suas aparições e ameaças. .... Mas se nos encontrarem cheios de alegria no Senhor, com os nossos pensamentos nos bens futuros, nos dons do Senhor, considerando que tudo está nas mãos de DEUS e que o demónio nada pode fazer contra um cristão, que até não tem poder algum, então, vendo a alma protegida por tais pensamentos, retirar-se-ão envergonhados. .... Se, portanto, quisermos desprezar o inimigo, pensemos sempre nas graças do Senhor e conservemos a nossa alma em jubilosa esperança" (cf. Rom 12,12)" (ibid. cap. 42).