Os santos podem interceder por nós ou encontram-se dormindo esperando o dia do Juízo?
DESDE O INÍCIO, a Igreja sempre ensinou que aqueles que morreram na Amizade do Senhor intercedem pelos que ainda se encontram na Terra. Essa doutrina, perfeitamente bíblica e totalmente coerente com a Fé dos cristãos desde sempre, é denominada intercessão dos santos. Diz o Catecismo da Igreja Católica:
“Pelo fato de os habitantes do Céu estarem mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a toda a Igreja na santidade. (...) Não deixam de interceder por nós ante o Pai. Apresentam, por meio do único Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, os méritos que adquiriram na Terra. (...) Sua solicitude fraterna ajuda muito à nossa debilidade."
(CIC §956)
Para a Igreja de Cristo, portanto, os santos intercedem por nós junto ao Pai, não por seu próprio poder, mas pelo Poder de Cristo, Nosso Senhor, único Mediador entre Deus e os homens para a nossa salvação. Os adeptos do fundamentalismo bíblico, porém, costumam apresentar objeções à este ensinamento. Tais objeções podem ser divididas basicamente em cinco categorias. Neste estudo buscaremos analisá-las e respondê-las, uma por uma:
Objeção 1:
Jesus Cristo é o único Mediador entre Deus e os homens
Acabamos de ver que a Igreja Católica não nega a exclusividade da Mediação de Nosso Senhor. Mesmo assim, esta continua sendo, baseada na leitura literal de uma passagem da Sagrada Escritura, a principal das objeções à doutrina da intercessão dos santos. A passagem bíblica em questão, evidentemente, é 1 Timóteo 2, 5: "Pois há um só Deus, e um só Mediador entre Deus e os homens; um homem: Cristo Jesus". No entendimento de algumas pessoas, aqui a Sagrada Escritura não deixa dúvidas de que só Jesus pode interceder pelos homens junto a Deus.
E tais pessoas estão certas, sim, neste ponto específico. Não há nenhum santo – nem Pedro nem Paulo e nem a Santíssima Virgem Maria – que possa interceder por nós junto a Deus no sentido de salvar as nossas almas, de nos resgatar do Pecado e da morte. "Só Jesus salva!", costumam bradar os nossos irmãos afastados mais exaltados quando falamos dos santos, e a isso nós devemos responder, simplesmente, com um sonoro: Amém! Sem nenhuma dúvida, de todos os que pisaram esta Terra, somente Jesus é Deus, e somente Ele, sendo Deus, se fez Cordeiro Imolado para a nossa salvação: o único Sacrifício capaz de nos resgatar do Pecado e da morte é o de Cristo, insistimos mais uma vez, porque esta é e sempre foi a nossa fé e a verdadeira doutrina católica.
Então, em que sentido cremos na intercessão dos santos? Neste ponto, prezado leitor, abro parênteses para deixar um testemunho pessoal: ocorre que eu mesmo, há anos, andava perdido, desorientado e confuso, procurando Deus numa série de falsas doutrinas. Cheguei a acreditar na validade da necromancia como caminho para chegar a Deus, pois achava que todas as religiões eram iguais e que procurar conhecer a "retrógrada" Igreja Católica seria uma perda de tempo...
Entretanto, através do testemunho e do exemplo de uma série de bons e fiéis cristãos católicos, acabei conhecendo a verdadeira Igreja Católica. E percebi que a Igreja que eu imaginava era apenas uma espécie de espantalho, uma falsidade pintada por falsos profetas, completamente diferente da Igreja Católica real – aquela que de fato existe.
O que eu ouvia dizer da Igreja, nas falsas religiões que eu frequentava, era uma caricatura, uma imagem totalmente distorcida da realidade. Através de um longo e progressivo processo de conhecimento da Igreja, rezando com fé e estudando com honestidade os primeiros Padres, a História da Igreja desde o início, a vida dos santos, o Catecismo, conversando com bons padres e assistindo com frequência à Santa Missa, fui agraciado com o conhecimento da Verdade que eu tanto procurava.
A minha vida se tornou, então, cheia de Luz e da Graça divina, e hoje eu posso dizer que conheço, a cada dia um pouco mais, o verdadeiro Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo. Agora navego em segurança, na ilustríssima companhia de incontáveis santos e santas, os do Céu e alguns cá da Terra, por este mar muitas vezes bravio, a bordo do grande Barco da Igreja.
Essa é uma longa história, mas por que mencionei agora a minha experiência de vida? Porque o meu exemplo é perfeito para ilustrar a ideia que tento transmitir: foi através do testemunho e do exemplo dos bons católicos que eu encontrei o verdadeiro Cristo, e, n'Ele, encontrei a salvação. Sendo assim, eu poderia dizer que esses bons cristãos me salvaram? De certo modo, sim, embora Quem tenha me salvado verdadeiramente tenha sido Jesus – e unicamente Ele poderia fazê-lo. Mesmo assim, daqueles que me conduziram ao Salvador eu poderia dizer que foram, sim, em um certo sentido, meus "salvadores". Porque eles foram como que reflexos do único verdadeiro Salvador, que é Cristo. – E é exatamente isso o que todo cristão fiel deve ser neste mundo: um reflexo de Cristo.
Outro exemplo: imagine-se, leitor, perdido num deserto, vagando há vários dias, já quase a ponto de morrer de sede: um viajante passa por você, conduzindo um jipe; ele não para, não lhe presta socorro nem lhe dá de beber, mas indica a direção que você deve seguir para se salvar. Desesperado, você segue a orientação desse viajante, segue o caminho que ele indicou e logo encontra uma habitação; ao bater na porta, alguém muito caridoso prontamente o atende, o acolhe e lhe dá água fresca, alimento e um leito para descansar. Além de tudo, essa alma bondosa lhe permite usar o telefone, para que você peça ajuda e possa enfim retornar à segurança do seu lar. Pois bem: sua vida foi salva. Quem o salvou? O viajante não lhe deu água nem alimento, nem mesmo carona. Quem lhe deu água, comida, descanso e a possibilidade de retornar ao lar foi o dono da casa. O viajante, porém, indicou o caminho até ele.
O mesmo ocorre com a intercessão dos santos. Eles mesmos não são o Caminho. O único Caminho para a salvação é Jesus; insisto que somente Ele se deu em Sacrifício para a nossa salvação, e que só Ele poderia fazê-lo. Mas os santos nos indicam o Caminho e, mais do que isso, são agentes do próprio Salvador a caminhar junto conosco; levam nossas intenções a Deus Pai, Filho e Espírito Santo.
Agora veja: se alguém crê naquilo que está escrito na Bíblia, também precisa crer na intercessão dos santos. Não podemos tomar uma parte isolada da Bíblia, acreditar somente nesse trecho particular e descartar todo o resto. Se cremos nas Sagradas Escrituras, precisamos crer em toda ela, meditar em tudo o que diz, e tudo dentro do seu devido contexto. E por acaso não ensina o Apóstolo Paulo, nas mesmas Escrituras, que os cristãos devem dirigir orações a Deus em favor de todos? Vejamos o que diz o primeiro versículo da própria 1 Carta a Timóteo:
“Acima de tudo, recomendo que se façam pedidos, orações, súplicas, e ações de graças por todos os homens, pelos reis e todos os que detêm autoridade, para que possamos viver uma vida calma e tranquila, com toda a piedade e dignidade."
(1Tm 2,1)
Ora, quem pede a Deus pelo outro, com "pedidos, orações e súplicas", está intercedendo pelo outro junto a Deus. Sim, S. Paulo nos pede abertamente, no versículo 1, que antes de tudo sejamos intercessores junto a Deus, uns pelos outros. E é logo adiante, nessa mesma Epístola, no versículo 5, que ele vai dizer que só Jesus é nosso Mediador. Estaria o Apóstolo se contradizendo?
Também na Carta de S. Tiago, capítulo 5, versículo 16, está escrito o seguinte:
“Confessai uns aos outros os vossos pecados e orai uns pelos outros, para que sejais curados. A oração fervorosa (ou assídua) do justo tem grande poder."
Afinal, se eu creio na Bíblia, em que devo crer? Que somente Jesus intercede por nós, ou que nós também podemos interceder uns pelos outros? Ensina a Bíblia uma coisa numa parte e outra coisa diferente, em outra parte? Não. Se a Bíblia contradissesse a si mesma, não seria Palavra de Deus. Na verdade, a solução para esse dilema é bem simples: a questão é que, dentro do contexto bíblico, a natureza da intercessão tratada no versículo 1 de 1 Timóteo é diferente da mediação do versículo 5.
No Antigo Testamento, a mediação entre Deus e os homens se dava através da prática da Lei e dos sacrifícios e ofertas no Templo. No Novo Testamento, isto é, na Nova e Eterna Aliança entre Deus e os seres humanos, é Cristo quem nos reconcilia com Deus através do seu Sacrifício único e suficiente na Cruz. É esta a nova mediação, e é neste sentido que o Cristo é nosso único Mediador, pois através d'Ele recuperamos para sempre a Amizade com Deus: "Assim como pela desobediência de um só homem foram todos constituídos pecadores, assim pela obediência de um só todos se tornarão justos" (Rm 5, 19).
Portanto, a exclusividade da medição de Cristo se refere à justificação e à salvação dos seres humanos. Mas a intercessão dos santos é de uma outra natureza: refere-se à graça que Deus nos concede de intercedermos uns pelos outros. É dessa maneira que os santos intercedem por nós.
Que podemos e devemos interceder uns pelos ouros é um fato com que os protestantes/"evangélicos" concordam; não há nenhum problema, nenhuma discordância quanto a isso, e aí já se quebra o argumento de que só Jesus pode interceder. Mas eu sei bem o que dirão, então: que nós, cristãos que vivemos ainda neste mundo, podemos interceder uns pelos outros pelo fato de estarmos vivos, mas que no caso dos santos já falecidos é diferente. Veremos agora esta outra objeção, em todos os seus desdobramentos.
Objeção 2:
Aqueles que já morreram, mesmo que tenham sido santos, não podem interceder por nós aqui na Terra, porque após a morte não há consciência; ficamos todos como que 'dormindo', esperando o Dia da Ressurreição
Os defensores desta objeção usam como fundamento as palavras do Eclesiastes e também as da Primeira Epístola aos Tessalonicenses :
“Com efeito, os vivos sabem que hão de morrer, mas os mortos não sabem mais nada; para eles não há mais recompensa, porque sua lembrança está esquecida (...) Tudo que tua mão encontra para fazer, faze-o com todas as tuas faculdades, pois que na região dos mortos, para onde vais, não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria.”
(Ecl 9, 5.10)
“Não queremos, porém, irmãos, que sejais ignorantes com respeito aos que dormem, para não vos entristecerdes como os demais, que não têm esperança. Pois, se cremos que Jesus morreu e ressuscitou, assim também Deus, mediante Jesus, trará, em sua companhia, os que dormem. Porque o mesmo Senhor descerá do céu com alarido, e com voz de arcanjo, e com a trombeta de Deus; e os que morreram em Cristo ressuscitarão primeiro. Ora, ainda vos declaramos, por palavra do Senhor, isto: nós, os vivos, os que ficarmos até à vinda do Senhor, de modo algum precederemos os que dormem.”
(1Ts 4,13-15)
Mais uma vez, é preciso manter em mente que a Bíblia é um conjunto coeso de livros, que precisa ser entendido como um todo: se quisermos entender a sua Mensagem mais profunda, não podemos tomar uma parte isoladamente e elaborar a partir desta uma doutrina diferente daquela que a Igreja ensina. Esta é a razão de Jesus Cristo ter dado autoridade a Pedro e aos Apóstolos para conduzir a sua Igreja até a sua volta. É por isso, também, que o Senhor jamais nos disse que bastaria o exame das Escrituras para encontrar o Reino de Deus e alcançar a Salvação.
Pois bem. Se alguém crê na Bíblia, não pode aceitar a doutrina da "inconsciência", que diz que os mortos estão como que "dormindo", aguardando o Dia do Juízo", simplesmente porque há diversos outros versículos muito claros na Sagrada Escritura que dizem o contrário. Podemos ver, por exemplo, Isaías 14,9-10; 1 Pedro 3,19; Mateus 17,3; Apocalipse 5,8; 6,10; 7,10.
A solução evidente é que os versículos aparentemente contraditórios citados mais acima (obviamente) não fazem referência ao estado mental de todos os mortos, mas sim ao infortúnio espiritual daqueles que morreram em inimizade com Deus. Tanto é assim que o Livro dos Provérbios atesta que "o sábio escala o caminho da vida, para evitar a descida à morada dos mortos" (Pr 15,24). – A "região dos mortos" ali denominada é o lugar de desgraça para onde são encaminhados os inimigos de Deus. E acaso não morrerão também os sábios, como todos os outros? Claro que os sábios também morrem, mas a Bíblia diz que estes não irão para a "morada" ou "região dos mortos" onde "não há mais trabalho, nem ciência, nem inteligência, nem sabedoria".
Assim entendemos que o Livro do Eclesiastes, assim como a passagem de 1Tessalonicenses, nas passagens em questão, estão se referindo ao infortúnio que existe nessa "região dos mortos" para onde vão aqueles que estão mortos para Deus.
Muitos grupos de protestantes aceitam esta realidade, mas não querendo aceitar a doutrina católica, apelam ainda para uma outra argumentação, que veremos em seguida.
Objeção 3:
Os santos não podem ouvir as orações dos que estão na Terra, porque não são oniscientes e nem onipresentes
Esta argumentação em especial, quando a ouvimos pela primeira vez, parece fazer muito sentido. E agora? Será que um santo pode receber as nossas orações e os nossos pedidos de intercessão, mesmo não tendo onipresença e onisciência próprias? Vejamos o que diz o Livro dos Atos dos Apóstolos:
“De noite, Paulo teve uma visão: um macedônio, em pé, diante dele, lhe rogava: 'Passa à Macedônia, e vem em nosso auxílio!' Assim que teve essa visão, procuramos partir para a Macedônia, certos de que Deus nos chamava a pregar-lhes o Evangelho."
(At 16,9-10)
O que percebemos nesta passagem? Entre outras coisas, que S. Paulo não precisou ser onipresente e nem onisciente para receber a oração do Macedônio, que suplicava por auxílio. O próprio Apóstolo ensinou que a Igreja é o Corpo de Cristo: os que estão unidos a Cristo através da Igreja são membros do Seu Corpo. – Um só Corpo. – Isso quer dizer que tanto nós, aqui na Terra, quanto os que já morreram para este mundo, na Amizade do Senhor, todos somos membros da Igreja, do mesmo Corpo Místico, do qual o Senhor é a Cabeça:
“Agora alegro-me nos sofrimentos suportados por vós. O que falta às tribulações de Cristo, completo na minha carne, por seu Corpo, que é a Igreja."
(Cl 1, 24)
Como membros do Corpo de Cristo, enquanto cristãos, estamos mística e intimamente ligados uns aos outros: "Embora sejamos muitos, formamos um só Corpo em Cristo, e cada um de nós é membro do outro" (Rm 12,5). Nosso Senhor Jesus Cristo é a Cabeça do seu Corpo, que é a Igreja: "Ele é a Cabeça do Corpo, a Igreja" (Cl 1,18). Portanto, está claro que os santos, tanto os da Terra quando os que já estão no Céu, na Presença de Deus, estão ligados, enquanto membros do Corpo do Senhor, a Igreja.
Assim como a minha mão direita não pode se comunicar com a esquerda sem que esse comando tenha sido coordenado por minha cabeça, da mesma forma, no Corpo de Cristo, os membros podem se comunicar uns com os outros, sendo que essa comunicação acontece através da Cabeça, que é o próprio Cristo.
Desta maneira, quando nós pedimos aos santos que intercedam por nós junto a Deus, é como a comunicação de um membro com outro membro no Corpo de Cristo: acontece através de Cristo Jesus, que é Deus. Assim como a nossa cabeça pode coordenar movimentos simultâneos entre os vários membros de nosso corpo, Cristo, Cabeça da Igreja, que é onisciente e onipresente, possibilita a comunicação entre os membros do seu Corpo.
Portanto, o fato de os santos não serem onipotentes e oniscientes não impede que eles conheçam ou recebam os nossos pedidos e possam interceder por nós junto a Deus. "E da mão do anjo subiu à Presença de Deus a fumaça do incenso com as orações dos santos" (Ap 8,4).
Objeção 4:
Nós não podemos dirigir nossa orações aos santos pois isto caracterizaria a evocação dos mortos, que é proibida na Bíblia
Esta objeção baseia-se principalmente nos seguintes versículos:
“Não se ache no meio de ti quem pratique a adivinhação, o sortilégio, a magia, a necromancia, a evocação dos mortos: porque todo homem que fizer tais coisas constitui abominação para o Senhor."
(Dt 18, 9-14)
“Se uma pessoa recorrer aos espíritos ou adivinhos, e andar atrás deles, voltarei minha Face contra essa pessoa e a exterminarei do meio do meu povo. (...) Qualquer mulher ou homem que evocar espíritos será punido de morte."
(Lv 20, 6 - 27)
Destacamos acima os trechos que explicitam que a condenação divina se refere à evocação dos mortos. Sem dúvida Deus abomina a evocação dos mortos. No entanto, há uma tremenda diferença entre evocar os mortos e pedir a intercessão dos santos. Evocar os mortos, dentro deste contexto, é pedir ao espírito do defunto que se apresente e se comunique com os vivos, por meio de necromantes (atualmente chamados 'médiuns'), como se aquela pessoa falecida ainda estivesse vagando em algum lugar, numa dimensão paralela ou "penando" na Terra. Como podemos perceber, trata-se da mesmíssima prática dos espíritas de hoje.
O que Allan Kardec chamou de "mediunidade" já era praticado nos tempos do Antigo Testamento, e sempre foi categoricamente condenado por Deus. Ao invés de confiar na Providência Divina, os que praticam a necromancia ou mediunidade preferem confiar nas instruções de espíritos, dos quais não têm como conhecer a origem (conf. 1Sm 28).
No caso da intercessão dos santos, não estamos pedindo que o santo se apresente para conversar conosco através de algum médium ou "psicografar" uma carta a fim de obter informações. Nada disso. Estamos, sim, dirigindo pedidos de oração aos santos do Senhor, os quais, pela fé, cremos que estão mais vivos do que nós no Céu, o que é completamente diferente de invocação dos mortos. Continuamos confiando somente na Providência Divina, e continuamos crendo que, em última análise, somente Deus atende às nossas preces.
Desta forma, as proibições divinas quanto à prática de espiritismo não se aplicam de modo algum à doutrina da intercessão dos santos.
Objeção 5:
Não há referência bíblica quanto à intercessão dos santos
Aqui está uma objeção completamente falsa já na própria afirmação. Existem, sim senhor, diversos versículos bíblicos mostrando que os santos elevam as suas e as nossas orações na Presença de Deus. Vejamos:
“Quando abriu o quinto selo, vi debaixo do Altar as almas dos homens imolados por causa da Palavra de Deus, e por causa do testemunho de que eram depositários. E clamavam a Deus em alta voz, dizendo: 'Até quando Tu, que és o Senhor, o Santo, o Verdadeiro, ficarás sem fazer justiça e sem vingar o nosso sangue contra os habitantes da Terra?' Foi então dada a cada um deles uma veste branca, e foi-lhes dito que aguardassem ainda um pouco, até que se completasse o número dos companheiros de serviço e irmãos que estavam com eles para ser mortos."
(Ap 6, 9-11)
“Os quatro viventes e os vinte e quatro anciões se prostraram diante do Cordeiro. Tinha cada um uma cítara e taças de ouro cheias de perfumes, que são as orações dos santos."
(Ap 5,8)
“A fumaça dos perfumes subiu da mão do anjo com as orações dos santos, diante de Deus."
(Ap 8,4)
Vemos com toda a clareza como os santos, no Céu, clamam a Deus em intenção dos que estão na Terra. Sim, os santos elevam suas orações a Deus. E por que estariam orando, se já estão salvos, desfrutando da Presença divina? Suas orações são em nosso favor, para que os que estão no mundo também possam um dia estar com eles, na felicidade perfeita e eterna plenitude.
No Livro do Profeta Jeremias, lemos:
“Disse-me, então, o SENHOR: 'Mesmo que Moisés e Samuel se apresentassem diante de Mim, meu Coração não se voltaria para esse povo'."
(Jr 15,1)
No tempo de Jeremias, Moisés e Samuel já estavam mortos. No entanto, a Sagrada Escritura apresenta o SENHOR Deus, diretamente, dizendo que estes mesmos profetas, já mortos para o mundo, poderiam se colocar em sua Presença para pedir pelo povo de Israel. Se isto fosse uma completa impossibilidade, como pregam certos "pastores", então nem seria mencionada na Escritura – Aí está a intercessão dos santos, literalmente, no texto da Bíblia Sagrada.
O testemunho dos primeiros cristãos
Finalizando este estudo, vejamos o que professavam os cristãos da Igreja primitiva, nos primeiros séculos, quando não havia divisão na Cristandade e a Igreja de Jesus Cristo era uma só:
“O Pontífice [o Papa] não é o único a se unir aos orantes. Os anjos e as almas dos juntos também se unem a eles na oração." – Orígenes (185-254 dC), Tratado da Oração
“Se um de nós partir primeiro deste mundo, não cessem as nossas orações pelos irmãos." – Cipriano de Cartago (200-258 dC), Epístola 57
“Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos." – Santo Hilário de Poitiers (310-367 dC), Apologetica ad Reprehensores Libri de Synodis Responsa
“Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de nós: Patriarcas, Profetas, Apóstolos e Mártires, para que Deus, por suas intercessões e orações, se digne receber as nossas." – São Cirilo de Jerusalém (315-386 dC), Catequeses Mistagógicas
“Em seguida [na Oração Eucarística], mencionamos os que já partiram: primeiro os Patricarcas, Profetas, Apóstolos e Mártires, para que Deus, em virtude de suas preces e intercessões, receba a nossa oração." – São Cirilo de Jerusalém, idem
“Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já receberam a Coroa de suas vitórias e triunfos. Moisés, um só homem, alcançou de Deus o perdão para 600 mil homens armados; e Estevão, para seus perseguidores. Serão menos poderosos agora que reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276 homens, que seguiam com ele no navio [naufrágio na ilha de Malta]. E depois de sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?" – São Jerônimo (340-420 dC), Adversus Vigilancio 6
“Portanto, como bem sabem os fiéis, a disciplina eclesiástica prescreve que, quando se mencionam os mártires nesse lugar durante a Celebração Eucarística, não se reza por eles, mas pelos outros defuntos que também aí se comemoram. Não é conveniente orar por um Mártir, pois somos nós que devemos encomendar suas orações." - Santo Agostinho (391-430 d.C. - Sermão 159, 1)
“Não deixemos parecer para nós pouca coisa; que sejamos membros do mesmo Corpo que elas [Santa Perpétua e Santa Felicidade] (...). Nós nos maravilhamos com elas, elas sentem compaixão de nós. Nós nos alegramos por elas, elas oram por nós (...). Contudo, nós todos servimos um só Senhor, seguimos um só Mestre, atendemos um só Rei. Estamos unidos a uma Cabeça; nos dirigimos a uma Jerusalém; seguimos após um Amor, envolvendo uma Unidade." – Santo Agostinho (391-430 dC), Sermão 280,6
“Por vezes, é a intercessão dos santos que alcança o perdão das nossas faltas (1Jo 5,16; Tg 5,14-15) ou ainda a misericórdia e a fé." – São João Cassiano (360-435 dC), Conferência 20
Conclusão
Como podemos ver, quanto à doutrina da intercessão dos santos, não se trata de "invenção" do catolicismo, como afirmam certos falsos profetas, mas sim da legítima doutrina cristã como sempre foi, embasada tanto nas Sagradas Escrituras quanto na Tradição Apostólica. Quanto a isto, os primeiros cristãos jamais tiveram dúvidas (outra prova disso é que este tema jamais foi motivo de disputas conciliares). Esta doutrina só confirma o Amor de Deus para conosco e Seu Plano de que sejamos, uns para os outros, instrumentos deste Amor.
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Ref.:
LIMA, Alessandro, artigo 'A Intercessão dos Santos', disp. em
http://www.veritatis.com.br/apologetica/imagens-santos/555-a-intercessao-dos-santos
Acesso 25/9/014