A Quaresma de São Miguel e o auxílio dos anjos
Na hierarquia angélica, Miguel era o menor dos anjos, mas, justamente
"porque muito amou", assim como a Virgem Maria, ele terminou sendo exaltado pela
poderosa mão de Deus. Resta ao ser humano imitar o exemplo desse Santo Arcanjo e
contrapor à arrogância da serpente maligna o humilde clamor de Miguel: "Quem
como Deus?
No dia 15 de agosto, Solenidade da Assunção de Nossa Senhora, inicia-se um
tempo devocional chamado "Quaresma de São Miguel Arcanjo". É um período de 40
dias (excluídos, portanto, os domingos) que vai até 29 de setembro, com a festa
dos Santos Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael.
A origem dessa devoção está ligada à vida de intensa penitência de São Francisco de Assis. Quando ele se converteu, entrou para a Ordem dos Penitentes, que eram
pessoas que faziam penitências públicas. Um dos vários períodos especiais em que
Francisco se mortificava era justamente os quarenta dias anteriores à festa de
São Miguel Arcanjo. Foi durante esse tempo, a propósito, que ele, já no fim de
sua vida, recebeu de Deus os santos estigmas.
Como se vive essa Quaresma? No "Devocionário a São Miguel" [1], da Editora
Canção Nova, recomendam-se algumas práticas especiais:
Providenciar um altar para São Miguel com uma imagem ou uma estampa.
Todos os dias:
Acender uma vela benta.
Oferecer uma penitência.
Fazer o sinal-da-cruz.
Rezar a oração inicial.
Rezar a ladainha de São Miguel. [2]
A oração inicial trata-se daquela famosa oração composta pelo Papa Leão XIII:
São Miguel Arcanjo, defendei-nos no combate, sede nosso refúgio contra a maldade
e as ciladas do demônio!
Ordene-lhe, Deus, instantemente o pedimos; e vós, príncipe da milícia celeste,
pela virtude divina, precipitai ao inferno satanás e todos os espíritos malignos
que andam pelo mundo para perder as almas. Amém.
É claro que todas as indicações acima são apenas sugestões, afinal, sendo uma
devoção particular, os fiéis podem escolher qualquer outra oração de sua
preferência.
Por que é oportuno viver essa Quaresma? Além de ser um tempo favorável para
realizar penitências, a Quaresma de São Miguel reaviva em nós a nossa devoção e
o nosso relacionamento com os anjos. De uma forma geral, o nosso relacionamento
com essas criaturas de Deus é bastante desleixado: agimos, muitas vezes, como se
os anjos sequer existissem. E, no entanto, eles verdadeiramente existem: são uma
criação extraordinária de Deus, situada, hierarquicamente, entre o homem e Deus.
Eles são puramente espirituais, não têm corpo, mas também estão a serviço de
Deus e são muito mais poderosos e gloriosos que os homens, estando alguns
ordenados para o auxílio dos seres humanos.
Dispostos em hierarquia, os anjos que estão em contato com os homens são os das
miríades inferiores, como, por exemplo, os arcanjos, que constituem o segundo
coro angélico. É nesse nível que se encontra São Miguel Arcanjo, cuja celebração
acontece no dia 29 de setembro.
A história desse arcanjo está ligada ao relato da queda dos anjos. Deus
criou-os, antes mesmo da criação do mundo, inseridos, de algum modo, no tempo
[3], e ofereceu-lhes uma ocasião para demonstrar o seu amor. É importante
lembrar que, quando Deus criou os anjos, eles não estavam em Sua presença. Ele
revelava-se a eles de alguma forma, mas não era um contato face a face, pois
isso obstruiria a liberdade angélica: Deus é uma verdade tão atraente que, uma
vez contemplada, elimina a capacidade das criaturas de escolher. Então, certa
vez, para testar o seu amor, Deus deu-lhes uma provação. Sabe-se disso pela
Tradição, mas também pelo ministério dos exorcistas, que expõe que certas ideias
são insuportáveis ao demônio, a saber: a encarnação do Verbo divino, o seu
aniquilamento na Cruz e, por fim, a posição de primazia de Nossa Senhora entre
todas as criaturas. Foi por tais ideias que Lúcifer – um anjo cheio de glória e
beleza –, juntamente com um terço dos anjos, decaiu. O relato da batalha travada
no Céu por essa ocasião está resumida no livro do Apocalipse de São João:
"Houve uma batalha no céu. Miguel e seus anjos tiveram de combater o Dragão. O
Dragão e seus anjos travaram combate, mas não prevaleceram. E já não houve lugar
no céu para eles. Foi então precipitado o grande Dragão, a primitiva Serpente,
chamado Demônio e Satanás, o sedutor do mundo inteiro. Foi precipitado na terra,
e com eles os seus anjos" [4].
O padre José Antonio Fortea, no livro "História do mundo dos anjos" [5],
destrincha essa impressionante história, colocando a rica teologia angélica
dentro de uma obra literária. Para explicar por que São Miguel, mesmo sendo de
uma hierarquia inferior, é aclamado como "príncipe da milícia celeste", ele
coloca na boca de um anjo a seguinte narração:
"Dentre os anjos fiéis a Deus, no meio de todas essas lutas houve um que se
destacou. Não se tratava de um anjo superior, mas o seu amor era superior. Foi
ele quem manteve mais viva a chama da fidelidade nos piores momentos da batalha,
quando tudo estava escuro e parecia que a metade dos anjos iriam se rebelar. Foi
destacado no bem e a sua fé iluminou a muitos. Foi ele quem no momento mais
escuro, na hora mais terrível no qual as multidões começaram a duvidar, no meio
do inicial silêncio geral gritou:"
"– Quem como Deus!"
"Foi assim que ficou o seu nome: Mika-El, Miguel. O lutador infatigável e
invencível. Miguel continuava a se destacar como guerreiro. A luz do seu
veemente amor iluminou a muitos que estavam confusos. O seu amor arrebatador
derrubou a muitos que lutavam em favor do erro. Inclusive, aqueles que combatiam
com Lúcifer reconheciam que nenhum dardo envenenado com suas razões, poderia
penetrar a couraça da sua fé inquebrantável. No meio da dúvida, ele foi
imbatível."
"Ele é representado com uma couraça, mas ele não portava nenhuma couraça
material. Tratava-se de uma couraça espiritual impenetrável às seduções lançadas
pelo iníquos. A única arma dele era a espada da verdade, da verdade sobre Deus."
" Miguel conhecia melhor a Deus que os inteligentes, porque ele amava mais. Por
essa razão, aqueles que foram ao seu encontro, tiveram que recuar." [6]
"Miguel conhecia melhor a Deus que os inteligentes, porque ele amava mais".
Mesmo sendo de hierarquia inferior, "o seu amor era superior". Por isso, venceu
as hostes inimigas que, embora tivessem como líder o regente dos coros
angélicos, Lúcifer, por seu ódio, "tiveram que recuar".
Mas, que as pessoas não se enganem, pensando que Deus pode perdoar o demônio. De
fato, Ele ofereceu a reconciliação a Lúcifer, no tempo da provação, mas ele a
rejeitou total e absolutamente. Ainda do livro de padre Fortea:
"Inesperadamente o onipotente Deus, Senhor de todas as coisas, falou. Dirigiu-se
a Satanás. Todos sabiam que eram as últimas palavras que iria lhe dirigir."
"' Filho Meu, volta para Mim. Repito, esta é a última oportunidade. O Teu pecado
não é maior que a Minha misericórdia. Fui grande ao criar o Céu, mas é maior Meu
perdão. Se retornares e coras as tuas faltas, você será a joia do Céu. A luz da
Minha compaixão perfeita resplandecerá em ti. Os milênios te contemplarão e Me
glorificarão.'"
"Quão grande foi o Altíssimo ao lhe perdoar todo o seu mal. ' Filho Meu, você será a joia da Minha misericórdia. Haverás de brilhar e ficarão atônitos os humanos que virão. Eles te olhando compreenderão que não há pecado que eu não possa perdoar. Você melhor do que ninguém poderá transmitir essa confiança ao caído. Você será um grande pregador, um grande intercessor que ao longo dos séculos me repetirá: se me perdoaste a mim, perdoa ele'."
(...)
"O diabo ergueu a cabeça e com toda a frialdade respondeu:"
"– Jamais! Nunca me ajoelharei!"
(...)
"No mesmo momento que o Dragão ameaçou em se lançar de novo em direção ao mundo
angélico, Miguel o arcanjo, desembainhou a espada e mostrou-a para ele. Satã deu
um sorriso e com um gesto de desprezo deu um impulso para se jogar em direção
das nuvens de anjos. Miguel, sem duvidar e com um gesto instantâneo, cravou-lhe
a espada no coração. A Verdade enterrada no próprio coração do diabo teve um
efeito fulminante. O imenso Dragão ficou como com seus pés colados ao chão, como
se não pudesse levantá-los nenhum milímetro. Parecia que houvesse batido com um
muro, essa espada era como uma muralha de granito." [7]
A vida do homem na terra é uma luta. O combate que se travou no Céu continua no
mundo dos homens. Invoquemos a intercessão de São Miguel Arcanjo, para que,
assim como ele, sejamos destemidos e experimentemos, em nossas vidas, o primado
de Deus: Quid est Deus?
Fonte: https://novecoros.blogspot.com/Fonte: https://arcanjomiguel.net/
《Apostolado Padre Gabriele Amorth》
— by Clevinho Maia
Recomendações
Curso Catecismo da Igreja Católica n. 29: Os anjos na vida da Igreja
Curso Catecismo da Igreja Católica n. 38: A queda dos anjos
Bibliografia
LIVRO DEVOCIONÁRIO A SÃO MIGUEL ARCANJO: Loja Virtual | Canção Nova
Devocionário a São Miguel Arcanjo. 70ª. ed. São Paulo: Editora Canção Nova, 2004. p. 73.
Cada anjo tem um tempo diferente, mas, sem dúvida, o tempo existe para eles. Como foram criados todos bons, mas, conforme a Escritura, um terço deles decaiu, isso significa que existiu um "antes" e um "depois". De alguma forma, isso é um tempo, embora não saibamos compreendê-lo.
Ap 12, 7-9.
Palavra & Prece Editora – História do mundo dos anjos.
José Antonio Fortea. História do mundo dos anjos (trad. Laura de Andrade). São Paulo: Palavra & Prece, 2012. p. 61-62.
Ibidem, p. 89-90.
fonte: padrepauloricardo.org/episodios/a-quaresma-de-sao-miguel-e-o-auxilio-dos-anjos